segunda-feira, 21 de junho de 2010

O RIO

Meu pai me falava do rio.De suas margens onde o gado se debruçava para beber a doce e límpida água que iria matar sua sede.Das pescarias nas tardes de domingo,da alegria que sentia em levar para sua mãe o peixe pescado para que ela preparasse o jantar.De como o rio era seu refúgio nas horas em que as bebedeiras de meu avô se tansformavam em ira.E a ira,em surras que deixavam marcas,algumas jamais cicatrizadas.Meu pai me falava do rio.Que uma das alegrias de sua infância era mergulhar em suas águas e se entregar à natureza,respirar o ar puro do campo,sentir a água fria lavando seu corpo,sua alma.
Meu pai tinha a sabedoria dos homens simples.Dizia que a vida é como um rio.Deixamos que ele corra livre
sem rumo definido ou construimos uma barragem para que possamos direciona-lo para um caminho.Encontrar o rio dentro de nós,ele dizia.
Foi na beira do rio que ele beijou minha mãe pela primeira vez.E foi no rio também que,anos mai tarde,ele mesmo me batizou em nome da santíssima trindade.Eu ,seu primeiro filho.
Meu pai me dizia que o tempo que nos alimenta também nos consome.Ele flui rápido como a correnteza de um rio.E eu que era o filho me tornei o pai,e de pai me tornei avô.E se o tempo permitir,ainda verei a chegada de um bisneto.Embora eu tenha que dizer que quando se é um velho de 85 anos pouca coisa ainda traz alguma felicidade realmente verdadeira.
Mas das palavras de meu pai eu nunca me esqueço.A vida é a eterna busca,ele dizia.Quando o homem desiste de buscar algo em sua vida,significa que sua vida acabou.Que não existe mais nada.
Do rio de meu pai nada restou.Hoje, tudo se transformou em ruas de onde não se enxerga o horizonte.E a felicidade que um dia ali foi vivida se perdeu em meio ao aço e ao concreto que a tudo soterrou.
Apesar de tudo isso,eu ainda busco sim,encontrar dentro de mim,um rio de águas tranquilas.Um último navegar.








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